Voltar Fundação Otorrinolaringologia e Faculdade de Medicina da USP inauguram Laboratório para Testes Genéticos da Surdez.

O Laboratório está entre os mais modernos do mundo e tem a capacidade de realizar os principais testes genéticos da surdez disponíveis. Pode realizar exames para pacientes do Sistema Público de Saúde e para pacientes particulares com alto padrão de qualidade. Além dos exames há uma avaliação e aconselhamento genético. A avaliação genética é realizada pela geneticista Dra. Karina Lezirovitz, sob a coordenação da otorrinolaringologista Dra. Jeanne Oiticica, responsável pelo LIM-32 da Otorrinolaringologia da FMUSP e pelo Prof. Dr. Ricardo Bento, Professor Titular de Otorrinolaringologia da FMUSP.
A avaliação genética pode ser agendada pelo telefone (11) 3898-2210. O médico solicitante deve redigir dois encaminhamentos devidamente assinados e carimbados que o paciente deverá trazer na data da primeira consulta: 1) Endereçado à Dra Karina Lezirovitz, solicitando avaliação genética da surdez para o paciente; 2) Endereçado ao Laboratório Dr. Ghelfond Diagnóstico Médico, solicitando a coleta de 4ml de sangue periférico, em tubo de tampa roxa (EDTA), do paciente (conforme tabela abaixo). É importante que pais de pacientes que apresentem algum grau de parentesco também realizem a coleta de sangue. Caso existam parentes próximos do paciente com perda auditiva, eles e seus pais também devem realizar avaliação genética e coleta de sangue.
Testes Genéticos da Surdez
É realizada a avaliação genética da surdez, com a pesquisa das causas genéticas mais frequentes, a fim de determinar sua etiologia. As causas genéticas de surdez analisadas de rotina são: 1) Pesquisa de mutações por meio de sequenciamento na região de código do gene GJB2; 2) Pesquisa de duas deleções do gene GJB6; delta(GJB6-D13S1830) e delta(GJB6-D13S1854) e 3) Pesquisa da mutação mitocondrial A1555G.
Nos casos em que houver indicação, o gene SLC26A4 (responsável pela Síndrome de Pendred e também por alguns casos de aqueduto vestibular alargado e displasia de Mondini), o gene OTOF (responsável por alguns casos de neuropatia auditiva) ou o gene EYA1 (responsável pela Síndrome BOR) poderão ser também pesquisados. No entanto, por se tratar de uma análise muito mais extensa, o resultado pode levar alguns meses para ser entregue.
Avaliação Genética
A primeira etapa da avaliação genética é uma consulta com a geneticista em que são levantados os históricos de vida e familial, além dos dados genealógicos. Em seguida, o paciente e, em alguns casos seus pais e familiares, são encaminhados para coleta de sangue. Essa coleta de sangue não necessita de nenhum tipo de preparo. A partir do DNA extraído dessa amostra sangue, realizamos a pesquisa das alterações genéticas descritas acima. Aproximadamente um mês após a primeira consulta, o paciente é reconvocado para receber orientação sobre os resultados encontrados e suas implicações. Também recebe um laudo contendo essas informações.

Diagnóstico molecular
Estima-se que existam mais de 100 causas genéticas para a surdez e ao redor de 50% delas já foram identificadas. No entanto, não existem testes de rotina para todas essas causas.
Os testes genéticos que fazem parte da nossa rotina de avaliação genética permitem identificar a alteração genética (mutação) responsável pela surdez em 15-16% dos pacientes. A identificação da mutação permite um aconselhamento genético mais preciso e também saber qual parte do sistema auditivo foi comprometido, fornecendo dados para se estabelecer um prognóstico no caso dos candidatos a implante coclear. No entanto, mesmo para aqueles casos em que não foi possível identificar a alteração genética responsável, é possível realizar cálculos de risco para obter uma estimativa de risco de repetição da perda auditiva na família.
Nos casos em que a alteração genética não foi identificada por meio dos testes de rotina, a amostra de DNA do paciente permanecerá em nosso banco. À medida que novos testes entrem em rotina, o DNA desse paciente será testado e, no caso da causa da surdez ser encontrada, o paciente será reconvocado.

Surdez Genética
Fatores ambientais e genéticos podem levar a surdez, perda ou deficiência auditiva. A frequência de surdez severa ou profunda em países desenvolvidos é estimada em um a cada mil nascimentos. No Brasil, foi estimado que essa frequência deva ser 4/1.000, devido à maior contribuição dos fatores ambientais em nosso país.
Existem mais de 100 causas genéticas para a surdez, mas apenas metade já foi identificada. A contribuição das causas genéticas chega até 50% do total de casos de surdez e pode ser classificada em sindrômica e não-sindrômica. A perda auditiva é dita sindrômica quando outras deficiências e sinais ou sintomas clínicos se encontram associados à surdez. Quando a perda auditiva aparece isoladamente, ou seja, sem nenhum outro sinal clínico associado, a surdez é denominada não-sindrômica ou isolada.

Padrões de herança
A surdez hereditária não-sindrômica pode apresentar tanto herança autossômica recessiva, autossômica dominante, mitocondrial ou materna, herança ligada ao cromossomo X ou mesmo herança ligada ao cromossomo Y.

Surdez Autossômica Recessiva
Cerca de 80% das deficiências auditivas hereditárias não-sindrômicas apresentam herança autossômica recessiva. Apesar de já terem sido identificados mais de 30 genes responsáveis por surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva, sem dúvida, o gene GJB2 é o mais importante, pois mais de 50% dos casos são devidos a alterações neste gene, sendo que a mutação 35delG é a alteração predominante presente em até 75% dos casos. Portanto, a alta freqüência da mutação 35delG na população e a variabilidade da manifestação da surdez a ela associada, tornam fundamental sua triagem em todos os indivíduos com deficiência auditiva sensório-neural de causa desconhecida. Essa indicação é válida tanto para os casos isolados, sem outros casos de surdez na família, como também para os familiais, ainda que o padrão de herança aparente não seja o recessivo. O gene GJB6, que codifica a Conexina 30, também se destaca como causa de surdez recessiva.

Surdez de Herança Materna/Mitocondrial
Já foram identificadas sete mutações no DNA mitocondrial que causam surdez. Dentre elas, a mutação mitocondrial A1555G (gene 12S rRNA ou MT-RNR1) merece destaque, em virtude da predisposição que confere à ototoxicidade pelos antibióticos aminoglicosídeos. Essa predisposição associada à mutação A1555G é de grande relevância clínica. O aconselhamento genético e a identificação das famílias em risco podem ter grande importância na prevenção da surdez, já que alguns casos poderiam ser evitados.
Estimativas internacionais apontam para uma frequência de 1% da herança mitocondrial dentre os casos de surdez hereditária, já uma estimativa nacional indicou que pelo menos 2% dos casos podem ser atribuídos a mutação mitocondrial A1555G.

Surdez Autossômica Dominante
Representa até 20% do total de casos. Em geral está associada a perdas auditivas de manifestação tardia e progressivas. Não há testes de rotina para essas formas de surdez, mas realizamos pesquisas no sentido de desenvolver novos testes.

Surdez de herança ligada ao cromossomo X
Cerca de 2% a 3% dos casos de surdez hereditária têm herança ligada ao cromossomo X. Sabe-se que existem pelo menos cinco formas de surdez cujo gene se localiza no cromossomo X, mas até o momento apenas três genes foram identificados. O gene mais importante é o POU3F4, cuja surdez está associada à fixação do estribo e o vazamento da perilinfa quando se realiza cirurgia para a retirada do estribo.

DÚVIDAS FREQUENTES
1) Este exame é coberto pelo plano de saúde?

Não, esses exames genéticos não são cobertos por planos de saúde.

2) O teste genético é indicado para pessoas com surdez de nascença ou também para pessoas que ficaram surdas?

O teste genético é indicado para todos os pacientes com perda auditiva, independente da idade de início dos sintomas. As mutações dos genes GJB2 e GJB6 estão em geral associadas às perdas auditivas presentes ao nascimento ou que se manifestam nos primeiros anos de vida. No entanto, há várias exceções na literatura em que a manifestação da perda auditiva foi mais tardia. Já a idade de manifestação associada à mutação mitocondrial A1555G é extremamente variável podendo atingir qualquer faixa etária.

3) Posso agendar uma avaliação diretamente ou preciso de um encaminhamento médico?

Para agendar uma avaliação genética, o paciente deve ter em mãos as duas solicitações, da avaliação genética (modelo de encaminhamento 1) e da coleta de sangue (modelo de encaminhamento 2), devidamente preenchidas e assinadas por seu médico (conforme tabela acima).

4) Eu tenho surdez de nascença, posso ir sozinho ou preciso levar um acompanhante?

É importante que pacientes com surdez de nascença venham acompanhados de seus pais e/ou familiares que possam contar com detalhes seu histórico de vida.

5) É possível determinar com o teste genético a probabilidade dos meus filhos também nascerem surdos?

Sim, tanto para os casos em que a alteração genética foi encontrada, quanto para aqueles casos em que não foi possível detectar nenhuma mutação, existem cálculos estatísticos que permitem estimar o risco de repetição da perda auditiva na família.

6) Eu e minha esposa somos primos e não temos surdez, é recomendável fazermos uma avaliação genética antes de planejarmos ter filhos?

Sim. Mesmo sem casos de doenças genéticas na família, casais de primos têm risco aumentado de terem filhos com doenças de causa genética, como a surdez. No entanto, não existem testes genéticos disponíveis para todas as formas de surdez. De qualquer modo, é possível fornecer orientações acerca dos riscos de surdez para os filhos de primos, de modo que eles tomem suas decisões reprodutivas devidamente informados.


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